Wednesday, November 17, 2010

Um diálogo informativo

- Então você vai ler "Marília de Dirceu"?

- Não, isso é só pelo conhecimento histórico. Mas queria ler poesia.

- Ah, mas tem pouco aqui. Queria ter mais Drummond. Sabe...O Drummond...é o cara da poesia no Brasil, parece.

- Só que eu queria ler poesia de amor...

(Olhar cético. Quais terão sido seus pensamentos?)

- Esse é o Drummond também.

(Resposta conclusiva.)


Friday, November 12, 2010


"She knows not the lenght of your hair in my hands"

Cruel seria não saber algo que deveria ser sabido. Criar expectativas desmerecidas ou crenças mal ajambradas. Caminhos que desviam o olhar para a beleza sem riscos. Para um ponto isolado e visível ao invés do desconhecido e enigmático, para aquilo que é sabido. Quando cruel é tudo aquilo que pode ser revelado pelo que não se sabe, justamente por não ser sabido.

Aviso

"The moon is not only beautiful
it is so far away
the moon is not only ice cold
it is here to stay"

Quando os homens partiram na Apollo 11 rumo à lua todos os homens partiram. E Apollo virou Apolo. Em português, pois deve ter virado coisas que eu seria incapaz de explicar aqui. Gostaria de explicar em sérvio ou croata. Pode ser que soubesse explicar em espanhol ou alemão. Até mesmo me esforçaria por entender em francês ou italiano. E me recriminaria por não saber mais do que este pequeno pedaço do espaço de um mundo que acabara de ser abandonado.

E quando meus filhos me perguntassem porque eu permaneço aqui, diria apenas que não pude compreender tudo isso. Se quisessem mesmo entender, eles que pensassem que me era indiferente o lugar da morte, mas apenas sua forma; eles que entendessem que eu não pretendia ser dono de ninguém, mas apenas abertura; eles que notassem que eu não tinha pretensões, mas apenas esperanças. Enfim, que não lhes pertencia e nem eles a mim.

Mas viajar à lua não deveria dizer respeito aos meus filhos, de qualquer forma, e sim ao abandono.

Thursday, November 11, 2010

Confissões de uma burguesa


Olga reparara que o homem no bar a observara. Exatamente no momento em que fechava o vidro. E sentira, de longe, o desprezo. Chegara a torcer pela abertura do semáforo.

"Ora, com que direito...". Mas não podia aceitar que imaginassem - "mesmo esse merda!" - que ELA desprezara as garotas. Apenas tentara evitar o constrangimento. Seu constrangimento, é verdade. Talvez não lhe houvesse passado pela cabeça a idéia de que aquelas meninas, que pareciam tão novas, ainda ficassem constrangidas; talvez sequer imaginasse que elas poderia algum dia ter experimentado este sentimento, já que bem poderia ser que nunca tivessem possuído mais que aquelas balas, um barraco onde sua mãe as esperaria à noite - o pai, é plausível pensar, está morto. Pelo menos ela pensara assim, não sem supor que estava sendo razoável.

O quê a incomodava era menos o fato de que existem constrangimentos do que o ato de que aquele rapaz sentado em um bar pudesse julgá-la, pois julgaria sem conhecê-la, sem entender o porque de seu ato, sem saber, enfim, porque ela estava com a razão.

Mais tarde chegaria em casa e diria a Jonas que tivera um bom dia, pois de fato o tivera. Ou ainda, não tivera um mal dia, e isto era o bastante para satisfazer-lhes, já que implicava que estariam infelizes e, assim, não trariam problemas. E hesitaria quanto a contar-lhe algo sobre este acontecimento. Pois nem mesmo ele procurava entender-lhe as razões, ainda que reconhecesse, ao menos, que elas existiam. E, nem por isso, era capaz de compreender que sua esposa não fugira às meninas, assim como não fugira de seu casamento, como achava que ele fizera, mas apenas agarrara-se a princípios que temia ser levada a quebrar. Fugira, sim, da própria fraqueza e da possibilidade de depender de Jonas. Isto o homem do bar não poderia entender.

Mais tarde chegaria em casa e faria um comentário qualquer sobre a pobreza. Poderia soar mais convincente, caso, na ocasião, pretendesse convencer alguém de algo. Mesmo o homem do bar.

Monday, November 08, 2010

Carta imaginária a um amigo

Engraçado como são as coisas. Sonhos talvez não sejam tão engraçados assim, mas esta é uma informação impossível de averiguar, imagina-se. De substantivo há o fato de que são ditos incontroláveis. Temerários também, mas esta é uma consequência de sua imprevisibilidade.

Se, porém, apenas são ditos imprevisíveis - e três palavras bastam para controlá-los. Talvez menos - nada há para se temer a não ser o desejo que os controla. Não suas consequências, mas suas causas. Ser imaginário, como a correspondência de um amor platônico, não é suficiente para dizer que o sonho não existe, ainda que não exista.

Algo mais é preciso para destruí-lo, algo que exista ainda menos. Algo maior que a solidão e o desespero, que a saudade e o ressentimento, que a desesperança, afinal. Algo como o próprio desejo.

PS: Motivado pelo Alê, que não é dado a romantismos.

http://maisumapalavraqualquer.blogspot.com/