Sunday, November 23, 2008

No decurso do vento



O contraste do verde escuro com cinza, também escuro, lhe agradava excessivamente. Ainda mais porque o vento parecia bater apenas na copa das árvores e no fundo das nuvens. E no seu rosto, fazendo com seus cabelos caíssem sobre seus olhos, sua boca e seu nariz. Mas suas mãos não poderiam movê-los, mesmo que quisessem.

E não queriam. Queriam permanecer atadas, pregadas àquela cruz verdadeira, que lhe parecia mais confortável do que a outra, imaginária, na qual insistia em se colocar. Mas parecia também finalmente ter entendido que aquele era o momento no qual ele gostaria que o tempo parasse. Após tudo aquilo, reconhecer a derrota e retirar-se não lhe seria agradável, ou mesmo justo, mas entendera que sonhos realizados à custa de sacrifícios, ideais conquistados à custa de perdas e vidas à custa de mortes não representam a glória tanto quanto a derrota, e, ainda assim, representam algo. "Rebaixar-se, neste caso, talvez valha a pena. É preciso que tudo mude; e sempre em busca do melhor, kamikaze...". Não que estivesse em paz, mas podia reconhecer suas falhas e a arrogância com que se portara frente ao Ideal. Por isso parar agora seria a melhor opção. Abandonar as tarefas que se lhe impunham e começar tudo de novo, pois haveria a chance.

Ali, distante de tudo, o único movimento que podia perceber, que lhe lembrava que o tempo ainda não parara era o vento. E fechava os olhos pra sempre e nunca mais voltar.