Entrega

"I've tasted the poison when I drank the wine of fate"

Parado, olhava para o nada. Ainda assim, parecia bastante concentrado. Porém, nada de especial havia em seu olhar, nada que refletisse qualquer singularidade de seu destino. Talvez a singularidade fosse justamente o fato de que ao deixar a vista se perder, ele parecia concentrar-se como se estivesse observando seu futuro, e não apenas pensando em como este seria. Muito pelo contrário, não havia paixões ali, nem sofrimento e nem excitação, não havia sequer curiosidade. Tanto o olhar quanto o destino pareciam já estar no futuro.

Um futuro traçado de antemão, ao qual só lhe restava se adaptar e que, por isso mesmo, não chegava a ser algo novo e sim a repetição mecânica de seus sentimentos e a obrigação maçante de esperar pela não concretização de seus sonhos.

No entanto, o fim da História também já era passado, mas as pessoas contiuavam a fazê-la e ao olhar para a frente, também não deixava de olhar para as chances de continuar a viver. É preciso se entregar...ao menos se entregar, já que não há nada mais que isso...a única forma de ser pego talvez seja essa, já que, por enquanto, penso e, logo, existo só".

Ainda impassível, um leve e rápido brilho perpassou seu olhar, mas a distância para a qual se dirigiu continuava tão grande que ele só pode ser percebido por ter existido em meio ao nada.