Sunday, October 22, 2006

Projeção



"Sometimes there's rain sometimes there's breeze"



Sentado, pensava se deveria continuar bebendo. Aliás, mesmo essa questão lhe parecia difícil de responder, pois não sabia, de fato, o que estava se perguntando. Olhava distraidamente pra todos os lados, observando cada uma das pessoas que se encontravam sob seus olhos. Não se preocupava com elas a não ser que elas se preocupassem com qualquer coisa que lhe parecesse preocupante, no caso ele mesmo. Não sabia se isto significava pensar no futuro, no passado, no presente ou em nada. "Talvez em nada...bom, eu escolho nada...eu acho. Mas nada é o presente, não? Droga". Resolveu parar de beber, o que lhe obrigava a terminar o que havia começado, no caso beber.
"Hum, então essa foi pro futuro!"

Passou a achar incrível como a qualidade de projeção é inseparável da tarefa de viver. Não sabia, porém, se incrível era bom, mal, indiferente ou nada.

Tuesday, October 17, 2006

Constrangimento Ideológico


Rio preto, Julho de 2006, três marxistas e meio vão ao Festival Internacional de Teatro, prestigiar a produção artística nacional de uma das formas de arte mais subvalorizadas culturalmente nos dias de hoje.

em primeiro lugar, o que marxistas estavam fazendo em um lugar que se reservou para a elite intelectual de uma região e, especialmente de um grupo social específico? claro que eles viram peças de dramaturgos marxistas também, sem, também é óbvio, se renderem a experiências novas, como a audiência a peças cuja temática fosse levemente passível de desconfinça quanto ao caráter moderno de seus desenvolvimentos. Na real, grande bosta se o negócio é o gosto dos caras, pq na mesma real, a gente tem q saber q os marxistas, geralmente, são toscos ao extremo, e tão pouco se lixando pra opiniões que não levem a reflexões intelectuais sobre as formas e conteúdos de uma proposta de alteração crítica da sociedade atual, ou seja, pensemos, bastante, com qualidade e originalidade, mas antes pensemos e não nos percamos em desvios egoístas.

no caso, Brecht te afasta da vivência de sentimentos em uma peça para te mostrar pedagogicamente a exploração, de modo que vc não se sinta levado por sentimentos q poderia experimentar se estivesse no romance (estranho, afinal, seu amigo Adorno talvez teria dito o contrário, mas sabe-se lá, não?... deveriamos perguntar a algum marxista,qual é a desse cara). será um indício, um claro raio de luz num céu chuvoso ou, quem sabe, a destruição das armas que ficaram dentro das forjas que se auto-destruiriam?

pois então detenhamo-nos mais um pouco neste tema: a proposta inicial não era fazer uma avaliação imanente dos desenvolvimentos sociais motivados pela desigualdade nos acessos ao poder de dispor de sua própria vida? ora, pra isso, pensa meio marxista, é preciso que se desenvolva tanto uma crítica imanente quanto uma visão um pouco menos egoísta e autoritária da arte, além, quem sabe, de uma aproximação das experiências particulares dos oprimidos.

No geral, quem sabe se o problema não é que a própria noção de estética acabou por se industrializar transformando-se num campo dominado por uma autoridade intelectual pretensamente revolucionária a níveis sociais?

Me parece plausível, ou alguém me explicaria porque fazemos cursos de alemão, francês, italiano e assistimos cinema alternativo e discutimos vanguardas presentes no passado, no presente e no futuro, alimentamos nossas capacidades culturais e, com ela nosso potencial de escapar ao domínio ideológico, que sabemos ser a causa da alienação do povo, esse sujeito descuidado! de boa, o problema é esse egoísmo pequeno-burguês que não é facilmente esqueciso, qdo vc quebra o argumento de alguém, ou quando vc mostra pra alguém q vc fala alemão ou lê perfeitamente em inglês.

Nesse momento (e precisamente esse é o momento que se congela ao longo do tempo criando um abismo perceptível apenas pelo lado daqueles que ficaram parados) é que a distinção entre quem está dentro e quem está fora do que é necessário se faz presente. e justamente nesse momento quem está fora se sente parado, ao mesmo tempo em que quem está dentro se imagina parado, ou melhor caminhando para trás, afim de resgatar aqueles que ficaram parados.

Talvez não seja tão fora de lugar lembrar que a História é um trem...

Friday, October 06, 2006

As cinzas dos pecados


" Standing on a dream isn't what it seems
Could we then reclaim a dream refused
Knowing what we know could we let it go
Realizing that all the years are used"


manja aquelas folhinhas amarelas que caem das àrvores, sei lá, acho q são Ypês amarelos, que elas chamam? Aquelas que ficam no chão e daí fica bem bonito qdo vc olha pra elas, pq parece q a rua foi forrada de flores.

então, daí vc se questiona sobre pq as pessoas varrem aquilo, se, de fato, é tão bonito. mas não é uma resposta difícil de achar, porque vc logo lembra q quando as flores caem, elas secam, murcham , escurecem e grudam no chão de um jeito q tem lá sua beleza, mas que te lembra de que aquilo ali não é mais do jeito que já foi e que não volta mais.

na verdade, a galera limpa aquilo pq o q foi belo um dia não é mais belo do mesmo jeito, apenas é diferente. o problema é esse, as coisas não são estáticas, elas estão imbuídas de dinamismo e isso significa alternativas que fogem ao nosso controle, vc escolhe esperando algo, mas escolhe errado daí já passou...se vc se dedicasse a cuidar daquela flor em todos os momentos evitando que ela morresse, mesmo sabendo que um dia ela vai morrer, qdo este dia chegar o que acontece? ou pior, ao longo o tempo, o que aconteceu?

Quando Michael mata o Fredo quem, de fato, morre? qdo vc é obrigado a abandonar as crenças e as possibilidades q vc tentou construir o que te sobra? é mais ou menos isso, sabe, vc vive obrigado a fazer escolhas e sempre pensa nisso, mas nunca se lembra de que uma vez escolhida uma coisa, ela não pode ser desfeita, uma vez recusado um sonho ele não pode mais ser reclamado, uma vez entregue a vida ela não pode mais ser vivida. e a vida se entrega de várias maneiras, inclusive vivendo-a de um jeito errado. talvez por isso, às vezes, uma escolha correta seja se afastar, impedir que aquela possibilidade de destruição prevaleça no futuro sobre os possíveis momentos de felicidade que estão no caminho até lá.
sei lá, talvez o que eu quero dizer é que com as escolhas, a gente parece estar preocupado com o futuro, mas com as possibilidades vc tem que lembrar q o passado ficou pra trás, foi deixado em troca de uma tentativa de melhora, mas aí é q fica a questão: qdo vc simplesmente fecha uma porta e finge que o que está lá dentro não existe mais, vc não está, de certo modo, cometendo um pecado contra todas as coisas que aquele caminha lhe propôs? principlamente porque se ele existe para vc é pq ele tem uma importancia, mínima que seja, mas uma importância. e é ao abandonar aquilo que se entregou a você que talvez esteja o pecado: vc, mesmo que pra isso não tenha alternativas, está desprezando algo que se doou a vc! no final das contas é um caminho que se escolhe sim, mas um caminhjo ao qual é inerente o desprezo e o esquecimento, e, por isso, é um caminho no qual vc segue as flores espalhando cinzas sobre os cadáveres possíveis que restam.