Saturday, August 13, 2011

Laços

(...)Olga recebera a notícia da morte de seu pai por telefone. Algum tempo depois iria lembrar-se de como ao ser avisada, também por telefone, da notícia da morte de um amigo tivera a sensação de que suas pernas haviam sido rasgadas e tudo aquilo que havia dentro de seu corpo, órgãos, músculos, nervos, sons, pesos e emoções, pareceu ter escorrido para o chão e formado um poça sobre a qual ela não conseguiria, por medo, apoiar-se. Ao mesmo tempo, em sentido inverso, algum tipo frio de movimento ascendente trouxe a seus olhos um filete de água, fraco o bastante para ser controlado tão logo fez-se sentir, mas que foi suficiente para que ela entendesse que algo havia restado no vácuo em que a notícia transformou seu corpo, e eram seus neurônios. Seu sistema nervoso, e somente ele, parecia funcionar perfeitamente: ela sentiu algo, ainda que naquele momento toda a força de seus sentimentos se concentrasse em seus olhos. Olga soube que estava triste. Desta vez, porém, fora diferente. (...)

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