Tuesday, August 02, 2011

As atuais circunstâncias

As atuais circunstâncias não significam muita coisa.

Talvez porque não sejam propriamente circunstâncias e sequer sejam muito diferentes de algo que não seja atual. A ideia mesma de atuais circunstâncias tende a ser uma farsa, ou melhor, um exagero. Não delas mesmas, é claro, mas de seu descolamento quanto àquilo que elas supostamente não são. Exagero, neste caso, seria considerar que as circunstâncias anteriores não seriam atuais se comparadas com estas, imediatas. E, se fossem mesmo assim tão indiferenciadas, seu caráter circunstancial também desaparece.

Nada disso, contudo, importava para Emília. Nada disso, a não ser a tradução destas ideias em um tédio tão permanente quanto as atuais circunstâncias. Ela vivia, outros morriam, ela mudava, outros ficavam, ela pensava, outros esqueciam e, de repente, sem que nada mais houvesse acontecido além disso, ela percebia que mudara por fora. Mesmo porque logo viria a deixar de acreditar que havia algo que não fosse isto que ainda naquele agora chamara de "por fora" isto não importava mesmo.

O movimento, porém, interessava-a de forma quase criminosa: "Como é possível que tudo isso seja apenas tédio? E por que tamanho desespero, se é apenas tédio?". Questões que, de fato, não importavam, mas que pareciam necessárias para que mais esta situação não fosse percebida apenas posteriormente. Ainda assim, Emília tinha a sensação de que já pensara nisto antes, quando ainda era capaz de diferenciar tédio de repetição.

Nas atuais circunstâncias, no entanto, Emília não era capaz de fazê-lo.


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