Saturday, April 09, 2011

Rocinante

Triste foi a figura mas não o homem, pois cavalgou, ainda que de modo pouco usual e nada altivo. Cavalgou em uma época em que cavalgar era preciso, ao menos para ele.

Mesmo assim o epíteto com que o homem passou a História foi o da tristeza. Triste figura, cuja vida foi desperdiçada entre delírios e desastres, mas também em aventuras; figura a quem coube transformar-se em uma imagem do fracasso a despeito de seus esforços terem sido suficientes para que o honrassem e chorassem sua morte. Triste, novamente, foi sua figura mas não a vida pela qual estas lágrimas caíram. Como, porém, a morte não foi capaz de carregar ambas - a vida e a figura - de uma vez, infelizmente à última coube a tarefa de construir a memória do homem. E ela, desajeitada como sempre fora, cumpriu o fez de modo inábil.

Inábil porque não fora triste aquele cavaleiro, apesar de sua figura. Perdeu-se, assim, também sua memória, mal contada nesta figura.

Nada, porém, foi mais injusto do que esquecer aquele companheiro sem o qual a bizarra figura não teria sido tão triste. Pouco mais sabe-se sobre ele do que seu nome e isto parece ser o bastante. Pena.





Algum dia alguém há de se lembrar dele.

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