Wednesday, April 20, 2011

Orgulho

"While I'm waiting for your blonde hair
To turn grey"





Encontrou-o no mesmo lugar em que ele estivera em todos os atos anteriores.

"Sua barba está ficando branca. Bom, está virando uma barba, mas está ficando branca. De qualquer modo, meus cabelos também estão ficando brancos." O orgulho a impedia de pintá-los, ainda que ela acreditasse que sua aparência realmente melhorasse com tais toques. Esta opinião, aliás, era a mesma de Jonas, que após tantos anos finalmente orgulhava-se de sua barba. Sentado naquela cadeira em que ela sempre o encontrava a cada dia seu orgulho renovava-se ao pensar que finalmente atingira aquilo que na juventude fora tão sedutor. Por vezes perguntava-se o quão honesto teria sido ao longo de todos estes anos caso fosse capaz de confessar suas fraquezas, dentre as quais a maior fora - sem dúvida - amar a si mesmo acima do próximo, mesmo que, com tal pensamento, o desprezo de si atingisse um grau bastante alto para ser suportado sem que alguém devesse pagar por isso. O que tornava-se ainda pior quando ele notava que a vítima privilegiada acabara de entrar.

Por um instante, tão breve quanto uma dúvida, observou-a e, tomado por questões, perguntou-se se, de fato, não mais a amava. Observou - mais que seu corpo, mais que seu rosto e mais do que todo o amor que ela lhe dera, verdadeiro ou falso -, observou seus cabelos. Brancos como sua barba, isto é, apenas na medida em que isto tornara-se inevitável e sinalizava que ambos haviam sido capazes de chegar a tal ponto. Considerou que fosse uma conquista, para logo a seguir perceber que eram conquistas individuais apenas. A despeito do fato de que ambos houvessem sido derrotados, não havia qualquer vencedor. E nem isso era suficiente para causar-lhe dor por concluir que não, não a amava mais. Somente admirava a beleza com que os tons de cinza assentavam-lhe e esperava que o mesmo acontecesse com ele.

Fosse este momento mais longo, possivelmente Jonas teria sido capaz de senti-lo. Olhando para a porta pela qual ela entrava, da mesma maneira intempestiva como em todos os dias de sua vida conjunta ele pudera vê-la entrando por ali, suspeitou que algo apareceria, como que para mostrar que ele estivera errado em todos estes anos. Seus olhos curiosos abandonaram o livro e seus pensamentos circundaram-na pela primeira vez em muito tempo. Fosse este um momento mais longo, haveria tempo para pedir que algo acontecesse, que fosse possível amar, se não ela a alguém.

Antes de chegar à cadeira, porém, Olga perguntou-lhe como havia sido seu dia.

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