Ainda que houvesse apenas um justo
"Não", pensaria o homem, "ele não é capaz. O poder é quem o detém e não o contrário. É apenas mais um sádico, um desgraçado qualquer que foi colocado ali. 'Purifica-te, senhor, pois que tu precisas. Vês o reino que criou, e notas que destruístes aquelas cidades por prazer, porque podias. Havia, sim, dez justos ali, afirmo-te. Mais que isto: jogo-te na face que o fizeste porque temeu encontrar mais que dez justos, porque não amava-os verdadeiramente, cão.' Sim, ele é incapaz. Incapaz de amar aquilo que somos, e apenas nisto estaria sua sabedoria não fosse justamente este seu dever.".
Justos, ímpios, inocentes, culpados, bons e maus, qual a diferença quando trata-se de um massacre?
Ájax, o divino filho de Telamon, talvez tenha sido este justo. Ájax, que amou mais a Tecmessa, sua escrava, e a Eurísaces, seu filho, a seu irmão Teucro e, acima de tudo, à justiça e à verdade de sua luta do que aos deuses. Ájax que pereceu sem ter nunca sido ferido por seus adversários, derrotado apenas por seu próprio sofrimento.
Este justo, o homem a quem buscava Abraão, já não mais existia. Séculos antes do senhor a quem este implorava amor, Ájax já entendera que este não era seu lugar. Ao mundo caberia o julgamento divino. A justiça deveria ser procurada em outro lugar.
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