Sunday, June 18, 2006

esquecimento

"Realmente é uma linha tênue". mesmo assim era obrigado e se colocar ali em cima...podia se mover, mas em hipótese alguma deixá-la. isso era o que mais lhe metia medo: se saísse da linha, aquela velha expressão se tornaria literal...não que não se divertisse com isso, mas a idéia de ser obrigado a andar na linha não lhe agradava profundamente. aliás, olhando o mundo a partir daquele lugar as impressões eram totalmente diferentes. por um lado pensava que, devido àquela obrigação de ficar na linha era um proletário soviético, pois todos os seus pares eram submetidos ao mesmo desígnio. mas odiava ver os adversários se moverem, tomarem distância e se aproximarem cheios de arrogância.
sua solução? se mostrava tão arrogante qto eles. enquanto podia caminhava até a marca e falava baixinho, mas sempre a verdade: " vou pra direita, não vou andar nem um pouco fora da linha. se vc tiver peito de mandar lá tá na minha mão, então não manda". óbvio q tinha medo, e não escondia isso, mas sabia de seu valor e demosntrava isso claramente.
também é óbvio, e ele sabia, que dificilmente se daria bem, "afinal", pensava "como é foda tomar uma atitude na lata. a coisa poderia ser mais direta, não é?"

dessa vez caminhou para a linha. parou. olhou. não precisava falar nada. "já tá bem claro qual vai ser meu movimento". olhou com certo carinho pra situação. pela primeira vez pareceu curtir aquele momento. não era mais uma responsabilidade, era um desejo. queria saltar sentir o vôo, não estava pensando na linha. estava pensando no que aconteceria logo após o salto.

porém, ao notar que talvez estivesse perdido em seus lindos devaneios, K., se lembrou de que para os goleiros, as cobranças de pênalti geralmente eram pensadas em função dos atacantes.
olhou novamente e viu seu adversário se afastar para depois começar a correr.

"vc podia ter me avisado pra q lado ir, não?"

estava parado pensando que tinha muito medo do que fazer, ainda q estivesse certo de que deveria fazê-lo.

1 Comments:

Blogger Alê Vieira said...

Genial... confesso que na prmeira leitura, tendo em vista todas as outras leituras que fiz na vida e a projeção de 'persona' intelectual que tenho de você - aquele que se interessa por Kafka e faz sociais - o texto só poderia se tratar de alguma reflexão intimista que levasse em conta as tempestades da consciência mais a situação socio-política de uma determinada comunidade, fosse ela um país industrializado ou kcond. No entanto, esqueci-me do futebol e da época na qual nos encontramos. Fu surpreendido. E se k. não levou o gol, eu certamento o levei por ele.

Muito bom texto, rapaz...

2:07 PM  

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