Friday, June 30, 2006

egoísmo e belas palavras

caminhou de cabeça baixa até a porta, olhando rapidamente para a pintura porca do letreiro. andava cabisbaixo e queria ficar assim. "deve ser bem fácil parecer arrogante na tv". chegou ao balcão, já sob olhares das outras pessoas. o dono do bar também se surpreedeu, mas logo retomou a calma e trouxe a cerveja que ele pediu.

depois mais uma.
depois mais uma.
depois mais uma.
depois mais uma.

novamente se surpeendeu ao notar que os olhos do cliente estavam vermelhos de lágrimas que pareciam ter secado ali mesmo. imaginou que não devia ser fácil para ele, "afinal, não devia estar aqui, sendo gasto pelo tempo". notou que ninguém ousava se aproximar. todos pareciam notar a tristeza que o consumia de forma brutal. bebeu mais.

depois mais.
depois mais.
depois mais.

parecia que nada poderia pará-lo, e ele mesmo sabia muito bem que só pararia quando conseguisse se controlar, o que estava fora de cogitação. "as estirpes condenadas a cem anos de solidão não têm uma segunda chance" pensou, rindo-se da jaula de ferro em que viva graças à sua erudição que, no mais, adorava demonstrar em meio aos porcos com que era obrigado a conviver. "por outro lado, é muito fácil culpar o que está fora de mim pelas minhas fraquezas...é muito fácil ser auto-complacente a esse ponto. difícil é sorrir e aprender a fingir"

seu chico olhava para ele e pensava que a vida talvez lhe pesasse mas isso era comum a todos. achava meio ridículo alguém se entregar tão facilmente, mas pensava que para algumas pessoas o futuro se perde entre projetos de longo prazo e o imediato, transformando-se em uma forma embaçada que chega sem ser percebida.
enquanto isso estava ali, aquele homem de boas qualidades que sabia que suas chances diminuiam a cada dia, mas que ainda assim não parecia preocupado com isso...ou melhor, parecia ter aceitado sua derrota.

só parou muito tarde, quando seu chico já olhava com pena para ele. antes de cair pela tantofazéssima vez (já estava no chão afinal) ainda se lembrou que fora avisado da dureza com que o dono do bar encarava as merdas q tinha q ouvir. pouco se importava com seus problemas; seu amor pela humanidade parecia abstrato, diziam. e ele logo notou que todos os sinais de um esquerdismo (ou revolucionarismo, mas como saberia distinguir, se não era um sociólogo?) não pareciam vir acompanhados de esperança ou coisas do tipo. seu chico era muito frio para um comuna.
talvez tivesse caído porque sua cabeça girava com a idéia de que seu chico se dispunha a ter pena dele. mas afinal, não era isso que ele queria?


"não é? vc não merece esperança, vc está certo, caia, fique aí! vc foi derrotado por um mundo injusto, e sem que ele precisasse fazer grandes esforços, apenas se mostrando de asfalto e sem coração. vc perdeu. conseguiu o que queria, pronto, se ache errado, agora vc já tem seu público, eu já te acho fraco!"
seu chico imaginou que K. poderia pegar muitos penaltis mais, mas nunca mais olharia para ele como olhara antes, pra alguém ele esperava que viesse a realizar grandes coisas por suas crenças ao invés de buscá-las com belas palavras mas expressando seu egoísmo.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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2:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

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